20 de março de 2013

JARDINS E O PAISAGISMO NO TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR



 Foto do Ednei Bueno do Nascimento 


1- INTRODUÇAO 

Os agricultores familiares de uma forma individual ou coletiva, têm trabalhado com as atividades de Turismo rural em quase todas as regiões brasileiras. No inicio de 2003, através das oficinas com técnicos e lideranças que já estavam atuando na área, embasados na proposta conceitual, a partir da inserção com as atividades do turismo, passou a ser um item financiável pelo Plano Safra de 2003/2004. 

Assim, desde 2003, entendemos o Turismo Rural na Agricultura Familiar como sendo o conjunto das atividades turísticas que ocorrem na unidade de produção dos agricultores familiares, que mantêm as atividades econômicas típicas da agricultura familiar, dispostos a valorizar, respeitar e compartilhar seu modo de vida, o patrimônio cultural e natural, ofertando produtos e serviços de qualidade e proporcionando bem estar aos envolvidos. Este passou a ser o conceito da atividade do turismo pelo TRAF, que serve de diretriz importante para todos os trabalhos da ATER Publica que trabalham com os recursos do MDA/SAF. 

Esta atividade deve ser tratada como um instrumento capaz de contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar e do desenvolvimento do turismo, cuja viabilidade está condicionada à sua inserção em um contexto que reforce e privilegie os valores éticos, econômicos e culturais dos agricultores familiares. 

Complementarmente ao conceito adotou-se como Princípios do Turismo Rural na Agricultura Familiar um conjunto de características capazes de traçar as especificidades desse segmento do turismo rural comprometido com a consolidação da agricultura familiar tais como: 

  • Ser um turismo ambientalmente correto e socialmente justo; 
  • Oferece produtos locais; 
  • Valoriza e resgata o artesanato regional, a cultura da família do campo e os eventos típicos do meio rural; 
  • Incentiva a diversificação da produção e propiciar a comercialização direta pelo agricultor; 
  • Contribui para a revitalização do território rural e para o resgate e manutenção da auto-estima dos agricultores familiares; 
  • Complementa as demais atividades da unidade de produção familiar; 
  • Proporciona a convivência entre os visitantes e a família rural; 
  • Estimula o desenvolvimento da agroecologia; 
  • Desenvolve-se de forma associativa e organizada no território. 

No contexto das transformações que ocorrem no espaço rural para tornar-se um receptivo turístico, está o embelezamento da propriedade rural, através de ajardinamento e de paisagismo dos entornos. 

Este trabalho quer contribuir para a análise de uma proposta de difusão de tecnologias para trabalhar com paisagismo e com a jardinagem das unidades produtivas dos agricultores familiares. Esta análise vai apóia-se nos fundamentos conceituais das atividades do Turismo Rural na Agricultura Familiar, TRAF e, principalmente nos conceitos já consolidados por uma cultura local. 

Entendemos que o paisagismo e a jardinagem são elementos importantes na formatação de um produto turístico, por outro lado, devemos reconhecer o patrimônio cultural dos agricultores familiares como uma diretriz básica na formatação destes novos produtos de turismo rural. 


2- DESCRIÇAO 

O meio rural é entendido no contexto da pluriatividade, com múltiplas funções, onde se destacam os aspectos econômicos, centrados na produção, que são fundamentais na geração de trabalho e renda no meio rural. Estas atividades econômicas são de diversas naturezas tecnológicas e se destinam para a produção de alimentos in natura, ou transformados, ou ainda na produção de matérias primas para as indústrias de transformação. Com a conservação e preservação do patrimônio natural, considerando-se os aspectos ambientais, existem regiões com vocações preservacionistas. Nos aspectos sociais, enfatiza-se as questões relacionadas com as relações humanas. São atividades sociais desenvolvidas para a manutenção e melhoria da qualidade de vida das famílias dos agricultores.. 

Entendemos como paisagismo um conjunto de elementos naturais que estão inseridos no espaço da unidade familiar de produção, que compõem uma harmonia entre o ambiente natural, o ambiente construído e o ambiente humano, relacionado com as atividades que são ali desenvolvidas 

As ações de paisagismo abrangem um conjunto de conceitos relacionados à preservação ou modificação da arquitetura local, à preservação do meio ambiente natural e construído e do patrimônio histórico, ao planejamento de sistemas de lazer e recreação e sinteticamente ao planejamento do espaço geográfico do entorno. 

Já a Jardinagem é vista como uma arte de criar e fazer a manutenção de plantas, dentro de conceitos de ordem cultural ou simplesmente estéticos. Também pode ser definida como uma atividade que tem como objetivo o embelezamento de determinados locais, próximos às residências, nos arredores públicos ou privados. O adepto da jardinagem, profissional ou não, trabalha no preparo desta área próxima a sua residência para o embelezamento, mas também como uma área de integração de um conjunto de valores e de crenças. 

No entorno da residência dos agricultores familiares, onde se localiza o espaço geográfico destinado à melhoria das condições ambientais da sua residência, um espaço de produção de bens ( ) e também um espaço de embelezamento da unidade rural, este é um Jardim da Agricultura Familiar. 

Entendemos os jardins nas casas rurais como espaços geográficos, ao ar-livre, construídos e projetados pelas famílias dos agricultores, com uma preponderância do trabalho das mulheres, normalmente inseridos em uma micro-paisagem de contexto próprio e marcadamente de características culturais. As plantas são distribuídas e cultivadas com uma lógica própria, para diversas finalidades e que produzem uma harmonia particular e específica para cada região, etnia, costumes, tradições, crenças, etc... 

Os jardins que estão localizados nos arredores das residências dos agricultores familiares possuem algumas características, entre as quais: 

1- Policultivo 

É uma característica do uso do espaço geográfico com uma vegetação constituída com múltiplas espécies vegetais ao mesmo tempo. São cultivados varias espécies de porte arbustivos e arbóreos. De hábitos rasteiras e trepadeiras e com diversas finalidades. 

2- Permacultura 

Entendido como um sistema de cultivo integrado com o meio ambiente, onde interagem os sistemas vegetais e de produção de animais. A permacultura envolve plantas semipermanentes e permanentes e atividade produtiva dos animais. São considerados os aspectos paisagísticos e energéticos na elaboração e na manutenção de Policultivo, o que a diferencia das demais atividades produtivas. 

3- Plantas aromáticas 

Cultivo de espécies vegetais que produzem essências aromáticas, utilizadas como temperos ou para produção de perfumes. Normalmente, estas essências são utilizadas como matérias-primas do preparo de óleos essências, retirados das folhas, flores, frutos, cascas, raízes, seiva e outras partes. 

4- Plantas atrativas 

São plantas cultivadas nas linhas de culturas principais e que praticamente não concorrem com ela e têm a função ou propriedade de atrair, alimentar ou hospedar pragas ou doenças que atacam as culturas principais. 

5- Plantas benéficas 

São plantas cuja presença trazem benefícios para a cultura já existente ou futuras culturas, por não interferirem no cultivo e serem hospedeiras de pragas que atacam a lavoura principal. Servem de abrigo e reprodução dos insetos que se alimentam das pragas. 

6- Plantas carnívoras 

São plantas que se alimentam de pequenos insetos. 

7- Plantas condimentares 

São espécies vegetais que servem de tempero ou condimento, na forma seca ou natural, para o preparo e a conservação de alimentos. Normalmente, estes temperos e condimentos são retirados das folhas, flores, frutos, cascas, raízes, seiva e outras partes. 

8- Plantas medicinais 

São espécies vegetais que produzem algum princípio ativo utilizado como medicamento para tratamento de doenças, fornecendo material indispensável para tratamentos fitoterápicos através de folhas, flores, frutos, cascas, raízes, seiva e outros, dos quais são preparados chás, xaropes, tinturas e outras formas de medicamentos ou cosméticos. 

9- Plantas ornamentais 

São espécies vegetais que produzem flores e folhagens, normalmente utilizadas para decoração e tratamento paisagístico. 

10- Compostagem 

Atividade de elaboração de composto que consiste na fermentação de uma mistura de restos orgânicos vegetais e animais e minerais, com finalidade de se obter um produto homogêneo, rico em húmus e microorganismos e quando incorporada ao solo melhora sua estrutura e fertilização. 

11- Controle biológico 

É a utilização de inimigos naturais para reduzir, eliminar ou controlar a população de um organismo considerado prejudicial à cultura principal podendo ser feito com a introdução direta deste organismo ou pela aplicação de produtos feitos com bactérias, fungos e vírus. 

12- Plantas da Cultura Popular. 

São plantas que tem no jardim a função de proteção da propriedade e das pessoas que ali habitam. Nestes espaços são cultivadas plantas que a cultura popular trata como sendo de valor espiritual. Neste caso, podemos destacar. 

a) Arruda: é uma das ervas mais poderosas para combater inveja e olho-gordo. A arruda já era conhecida e usada na antiga Grécia e Roma. Foi popularizada no Brasil pelas escravas na época na colonização. Quando colocada num ambiente, além de proteger, emite vibrações de prosperidade e entusiasmo. Podemos ter sempre um galho de arruda junto ao corpo para afastar as energias negativas. 

b) Guiné: em um ambiente tem o poder de criar um "campo de força" de proteção, bloqueando as energias negativas e emitindo vibrações otimistas. Atrai sorte e felicidade. Cria uma energia de bem-estar nos ambientes. 

c) Alecrim: é uma erva que tonifica as pessoas e os ambientes. É considerada também um poderoso estimulante natural, favorecendo as atividades mentais, estudos e trabalho. Favorece e fortifica o ânimo e vitalidade das pessoas. Agindo em conjunto com arruda, "segura" as energias de inveja, mau-olhado e fofocas. 

d) Comigo-ninguém-pode: o nome da erva já diz tudo. Afasta e quebra todas as energias negativas dos ambientes. Em uso conjunto com espada de São Jorge quebra feitiço, magia e mau-olhado. Além deste super poder, é uma planta muito bonita para qualquer ambiente. 

e) Espada de São Jorge: por causa de suas folhas pontudas é facilmente associada ao poder de cortar as energias negativas, a inveja, olho-gordo, magia, etc. Alguns dizem que espanta os maus espíritos. Ao cortar as energias negativas, a erva atrai coragem e prosperidade. 

f) Manjericão: Além do delicioso sabor que passa como tempero da cozinha italiana, o manjericão, quando exposto num ambiente, tem a propriedade de acalmar e trazer paz de espírito a todos. Ao acalmar as tensões, afastamos os pensamentos negativos e nuvens negras. 

g) Pimenteira: esta planta combate as energias pesadas e ariscas. É uma planta de vibração estimulante, afrodisíaca, tonificante e atrai boas energias para o amor. 

13. A Topiaria vem do latim topiarius e significa "a arte de adornar os jardins". A topiaria é uma técnica avançada de jardinagem que tem por objetivo dar formas esculturais às plantas, de acordo o desejo do jardineiro. É uma arte antiga, sua origem remonta a 500 A.C. onde foi explorada nos jardins suspensos da Babilônia, como os primeiros jardins intensamente trabalhados pelo homem. Esta técnica esta presente em um determinado grupo de Agricultores Familiares. 

14. Elementos estruturais de paisagismo São pequenos equipamentos que permitem a distribuição e a criação de estruturas de apoios a diversas plantas. Nos jardins são utilizados elementos naturais como pedras, seixos, material residual da produção que são utilizados com estes fins etc. 

15. Alelopatia É uma característica de determinadas plantas de exercerem efeitos sobre outras plantas. Este efeito pode sinérgico ou efeito de competição e de conflitos. 

3- CONCLUSAO 

Ao se propor a trabalhar com a melhoria dos arredores das casas dos agricultores familiares, com jardins e paisagismo, podemos entender que este universo está fortemente influenciada pelo patrimônio e memória cultural dos agricultores familiares. Assim, a lógica da manutenção destes espaços não é simplesmente um espaço de beleza e de contemplação estética, mas uma área que reflete uma cultura popular, ancestral e é compatível com o volume de trabalho ali despendido. 

A alteração desta cultura de jardins populares para atender a uma demanda de um mercado, muitas vezes implantando jardins de modelo urbano, com plantas exóticas ao meio rural, com uma cultura bastante influenciada por valores academicistas, pode comprometer e impactar valores e tradições na ordem da cosmologia e do modus vivendi das pessoas que ali moram, tornando este jardim em uma replica de jardins urbanos e sem o apelo da agricultura familiar, criando uma estética falsa aos valores locais, mas apenas bonito aos olhos de quem vê. Os jardins e a organização da paisagem rural tem um sentido, que é o sentido da ocupação e do trabalho dos agricultores familiares, impregnado de sua visão de beleza e estética, muito diferente da estética e do sentido do belo para o visitante. 

Precisamos educar os visitantes que um jardim de uma unidade de agricultura familiar pode ser utilizado como um instrumento de educação ambiental e também de aprendizado da cultura popular . 
O jardim da agricultura familiar é um atrativo turístico e pode se tornar um produto turístico desde que considerado pelas significações que apresenta, com o diagnostico de todas as plantas, estabelecido como um sistema de proteção, contemplação e de cura. A exploração de todas as potencialidades dos jardins da agricultura familiar é realizada com o entendimento dos técnicos sobre estes valores que se manifestam neste espaço e que devem ser conservados, pois fazem parte do patrimônio cultural de nossos agricultores familiares. 

 
Artigo elaborado pelo colaborador 
Ednei Bueno do Nacimento 
Egº Agrº EMATER - PR



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